sábado, 5 de março de 2016

O Caminho De São Tiago * Olavo Romano - Editora Ática 1984

Minas E Seus Casos
Olavo Romano - Ática 1984
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O Caminho De São Tiago

O pai precisava resolver uns negócios na cidade e chamou o filho para ir junto. Fazia muito tempo que Tiãozinho tinha ido a São Tiago a última vez. Estava agora com dez para onze anos, era quase um rapazinho.

Botou arreio novo no Rosilho, com peitoral e rabicho, coxinho e capoteira. Tomou banho geral, vestiu o terno branco, bebeu um café reforçado e, dia amanhecendo, metia o pé na estrada.

Viagem estirada, a bem dizer quatro léguas, oito ida e volta. Coisa pra macho. Por isto ia tão intimado.

Na cidade, chupou picolé e experimentou refresco de groselha. Escutou conversa de homem na farmácia do João Reis, depois deu umas voltas na Praça da Matriz. Comeu lombo de porco com linguiça, tutu de feijão e couve picadinha na pensão do Luis Caputo. Escutou muita música caipira no rádio do Vicente Mendes, enquanto fazia suas compras: um pente "Flamengo", um espelhinho de bolso com escudo do Vasco nas costas, um canivete "Corneta", mais dúzia e meia de bola de gude pra encantar as vistas e invejar os irmãos.

Duas e pouco, tudo resolvido, saía de volta, acompanhando no pequira a marcha larga da Princesa, besta baia de estimação do pai.

Era janeiro, dias quentes e grandes. Chegou em casa com céu ainda claro. Trocou de roupa, jantou, foi pro alpendre conversar com os agregados. Manuel vaqueiro pergunta:
- Comé, Tiãozinho, gostou da viagem?

O menino tinha as pernas raladas, o traseiro doendo daquele estirão de quase oito léguas. Mas trazia a alma cheia de uma novidade muito bonita. Estufou o peito, tomou um ar solene e revelou ao grupo de empregados a sua importante descoberta:
- Olha, gente, quem quiser saber como este mundo é grande, viaje pros lados de São Tiago.
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